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Vallda: Incrivelmente, Maria!


        Parece feliz! Maria, tem um vício bom de lembrar desejos antigos no vagar do tempo e no platonismo dos sonhos, porque sempre acreditou que, um dia, todas as coisas mudam de cor, que a chuva apazigua e que há uma égide paradisíaca no arco-íris!
         O seu maior sonho é, indubitavelmente, perdoar o agressor. Incrivelmente, pensa assim porque o timing de concretização de um sonho nunca é efêmero. Perdoar é uma lufada de ar fresco que carece de tempo!
         Num passado recente, ela já tinha sido guerreira, já tinha quebrado muros, derrubado as fronteiras do medo e conquistado coisas inimagináveis! Toda uma história bonita que não foi construída da noite para o dia, pois, truques de magia são fictícios, são pura ilusão.
         Hoje as pessoas, sempre que a encontram, olham-na de cima a baixo ou de lado, mas com olhos de admiração. A metamorfose é visível, porém, ninguém, sequer, imagina que no âmago, como se fosse uma ilha, verte-lhe sangue por todos os lados.
        Ela ama tanto a liberdade da sua solidão naquela fase do dia, em que estar sozinha é estar em paz, degustando uma hora de cada vez.  O problema é que à parte, co-habitam, com a sua vontade de voar plenamente, vozes que, sobre ela, exercem uma supremacia corrupta, ora pela intenção, ora pela violência do tom, que mutilam como lâminas dilacerantes a sua essência e colocando a um canto todas as suas histórias memoráveis de glória e superação, vozes que sangram! Contudo, ela abomina o rótulo. Ser rotulada de vítima é um estigma que  não lhe dá o estatuto que ela diz ter, o de uma mulher de armas! Esta é a condição ideal de uma mulher sofredora que jamais aceita ser, realmente, a vítima! Aliás, até pode doer, mas para ela, aquele ser falante e insensível, é a única vitima de si mesmo e de uma formação insuficiente ou negligente! E é desta forma que ela decreta e assume um paradigma de heroína de si própria. Dona do seu nariz, julga já ser aquilo que bem lhe apetece! Parece, realmente, feliz! É assim que Maria vive, desde há muito, uma vida igual à de tantas outras Marias, mas, incrivelmente, envolta num gracioso eufemismo e de cabeça erguida à espera que um sonho se materialize, mas, sem que quase ninguém lhe conheça a alma.
          Diz ela, que um dia, até isto mudará de cor! No fundo, Maria sabe que ganhará uma vida inteira quando decidir embutir nela um arco-íris!  Até lá, escutando e sangrando!

Vallda

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