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Vontade desmedida (fictício)



Mais um dia, porventura chuvoso, depois de naquela semana o ambiente ter aquecido. Tinhas o namorado à espera vezes sem conta, cedias-lhe tudo, até os teus sentimentos mais fortuitos, a tua casa e como seria de esperar, os teus atos em seu abono.
Essa semana adivinhou-se, estranhamente, agradável. Um dia inteiro na tua companhia era deveras paradisíaco, embora se tornasse curto pela importância que, mutuamente, nos aprazava. 
Aquele toque entre lábios, há dias, enquanto preparávamos juntas um jantar delicioso, teria sido satisfatório, iluminou-me a noite, mas saberíamos de antemão que não seria suficiente. 
  
 - Ainda bem que apareceste. Tenho sonhado contigo acordada, contei os dias para te ver. Foram longos, pareceram muitos. - Disse eu com voz trémula. 

O Ricardo era um homem maravilhoso também tinha de mim todos os caprichos. Era o meu melhor amigo, conseguia decifrar todas as tristezas do mundo no meu sorriso mais rasgado, também por isso me conquistou. Era o companheiro ideal, além disso, na cama era louco, o macho viril que domina, que conhece todas as técnicas da arte de dar prazer a uma mulher. Confirmo: o sexo oral era exímio,  era um namorado de sonho. Porém, hoje decidi dar lhe uma trégua. 

Passar o dia contigo, esperando que aquele beijo suave se expanda, que provoque um voejo em minha alma. 
No fundo, queria te conhecer mais e mais e mais. Já conhecia tanto de ti, mas todos os dias, temos um pouco de "eu" em nós, influenciado pelas pessoas com quem convivemos, pelas atitudes que nos demonstram e pelos lugares por onde passamos até quando só queremos a nossa própria companhia, somos mesmo alguém novo todos os dias. 

- O ser humano é incoerente e imprevisível, sabias? O que fomos ontem duvidou do que somos hoje. Somos um constante "aprender que já estivemos errados".  - Disse eu, movida pelo lado inspirado que me é apanágio, há anos desde que consigo ter em meu redor um ambiente inspirador.

- Não duvido! - Respondeste - Acho que somos iguais, sentimos o mesmo, queremos o mesmo, cometemos os mesmos erros... 

Cerrei-te os lábios com os dedos, não precisava de mais palavras, queria-te a ti. 
Sentir a textura de teus lábios com as minhas impressões digitais, provocou em mim os mais sórdidos arrepios no fundo da barriga e na ânsia de receber o tão famigerado sinal, sentia a urgência rebelde da aparição de borboletas esvoaçando a parte interna de todo o meu corpo. Não resistimos, o dia foi tão curto e infinito na sua plenitude. Despimo-nos de preconceito, de medo, de barreiras mentais e só depois de roupa. Lembro-me, elogiaste a maciez dos meus lençóis. O teu tecido preferido contrastava com as nossas peles juntas. Não era a cor, não era a textura, no fundo nada era igual na realidade, mas sentíamos que no nosso mundo secreto, tudo podia ganhar a forma que quiséssemos, até um simples lençol rosa cetinoso, no nosso imaginário podia ter a cor da nossa pele. O nosso íntimo era um mundo à parte só nosso e nada nos podia deter. Eras a combinação perfeita entre o querer e o ter e só me ocorria dizer-te: " Deixa-me ficar em ti, por muito tempo. " 

- Gosto quando me olhas com o teu silêncio, nunca sei o que estás a pensar. - Sussurraste paulatinamente. 

Prontamente, respondi: - Sabes, os tumultos estão todos cá dentro, é por isso que o meu silêncio olha-te... 

Desci o teu corpo quente com os meus labios e focando-me em teu sexo, implorei sem palavras pelo teu orgasmo, apenas com um ósculo ardente entre quatro lábios diferentes. Expandiu-se assim o beijo com um auge majestoso, cheio de suspiros e gemidos. Senti-os como fogo de artifício em nosso redor. Estávamos a celebrar um sentimento que achávamos que ninguém conhecia, que era inédito e que era só nosso. Abraçamo-nos como se o amanhã não viesse, como se fosse uma jura não verbalizada de que a aquela loucura, era amor. 

- Amo-te! - Arrisco sempre
- ‎Não sabes - entristeceste-me... 
- Duvidas, que é amor? - Questionei!
- ‎Não duvido, sinto o mesmo. - Declaraste-te! 

Sentíamos o amor vindo de outras direções. Éramos amadas e bajuladas por pessoas do sexo oposto, tínhamos amor, carinho, amizade. Nada nos faltava. Mas sobretudo tínhamos uma na outra o que só uma mulher nos podia dar. 
Ganhei a certeza que podemos ser felizes em mundos paralelos com mais borboletas do que gente. Borboletas julgam menos... 

Vallda

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