Translate

Vallda: Quando nada nos Mundos Recônditos me inspira.


Outrora eram cafés, cigarros, e livros à sua volta.
A poetisa tenta sentir, acabando por mentir, mente calada e mente sofrendo, mentindo a si própria.
Há um prazo de validade que ela cria no seu introspecto, inspiração é que lhe falta, então ela fica ali, perante o computador analisando poemas de outros poetas e poetisas. É um dos seus Mundos Recônditos. 
Ela fica ali, lembrando quantos livros já leu, quantas linguagens diferentes já passaram em frente aos seu olhos e se angustia com a falta de barulho no seu espaço envolvente, porém, com a sua alma tão barulhenta.
A noite chega e a poetisa sente nostalgia, tristeza e saudade. Tudo se passa dentro dela, naquela solidão angustiante e maçadora que chega a provocar insonias. Abre a janela, acende outro cigarro e admira a beleza da Lua, aquela lua cúmplice que um dia viu "coisas" que não conta a ninguém, mas questionando se porquê, com tantas coisas lindas à sua volta está lhe faltando inspiração para transformar em palavras os seus pensamentos. Pousa a beata no cinzeiro voltando à sua mesa. As notícias de jornais e telejornais alucinam lhe tanto a mente, ofuscam lhe tanto o raciocinio e nada de bom recorda, chegando a duvidar se habita o mundo certo. Pensa em fugir, fugir dali sem deixar rasto nem olhar para trás, levar com ela só as palavras, aquelas que mesmo quando não são expressas no papel são expressas na sua mente. As palavras nunca a deixam sozinha. Ela quer ir para outro mundo, onde as coisas boas acontecem e as palavras brincam no papel. Ela quer acreditar num mundo de paz e amor, de harmonia e felicidade, de amizades. Ela abre os olhos, sonha por tempo indeterminado. Toma outro café e desliga do mundo irreal. Na televisão com som mudo, assiste aos terramotos, às guerras e aos conflitos. Pais que matam filhos, filhos que matam pais, A literatura que ameaça morrer, porque ninguém lê e escritores que escrevem ao esquecimento, porque a tecnologia está à solta. Então a poetisa risca na folha e resolve não escrever nada. Não que ela acredite na morte do livro, ou na ausência do leitor. Nem é por isso, a alma submete se a sessões de escravatura por não ter onde se inspirar.  Contudo esta poetisa, não se deixa levar pelo pessimismo e pela guerra intrínseca da mente a que seu mundo se tornou.
O poetisa chora. A poetisa sente. E a poetisa fala consigo mesmo. 
Ela quer melhorar tudo, ela quer fazer justiça com as proprias mãos, com os proprios dedos mas como (?) se na frente dela há apenas um papel e uma caneta. No computador o programa está aberto com uma página inteira em branco. A poetisa se esforça para acreditar que com as palavras que ela sempre escreveu vai conseguir fazer a diferença. Espera que um dia as pessoas leiam suas palavras de paz e passem a pregá-la quando nesse momento o seu corpo descansa em paz. Será preciso regressar a casa pois a vida é uma viagem que esgota o corpo e a alma. Seria necessário que toda a gente entendesse que a poetisa não quer julgar os outros, mas que também não quer ser julgada. Que a felicidade de quem lhe deseja mal, também lhe importa . Que deseja sucesso a quem lhe virou as costas. Um poeta pode não ser assim, mas sobretudo, deve ser assim! Porque a unica arma inofensiva que poossui é a caneta, enquanto as suas defesas são as palavras e o seu mundo são os segredos mais bem guardados que ao serem revelados podem destruir almas inteiras, porque são vários os seus mundos Recônditos.
Mas ela está sempre lá, escrevendo e lendo, lendo e escrevendo. Acreditando, acima de tudo, que alguém acredita nela, e faça desse mundo injusto um mundo melhor, enquanto os seus mundos Recônditos o permitirem. A única coisa que a poetisa quer é inspiração.
E eu aqui desejando nunca ser ela! 

12 de julho de 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário